
Desde que comecei a fotografar de fato, no anos da minha adolescência, apreciava os rostos debutantes das minhas amigas que não poderiam pagar por um fotógrafo profissional. Eu gostava de captar o amor e a genuinidade dos sentimentos, sonhos e fragilidades com a lente de minha câmera.
Eu fui inspirada pela vida, pelas relações humanas em geral e por uma estranha vontade de observar o mundo de longe e ficar quieta, esperando pacientemente a minha vez e usando minha voz somente depois de ter usado meus olhos.
Eu estava sentada naquele sofá assistindo na televisão a pessoas diminuídas por questões de etnias, classes e gênero. Eu estava de pé contra a parede, observando dois adolescentes levarem parte da minha esperança de um futuro melhor enquanto me assaltavam. Eu estudei a respeito de um país que confunde prioridades e incorpora ideologias distorcidas em sua cultura em prol da aceitação. Percebi que segregação, hipocrisia, inveja e egoísmo não se encaixam com o que eu aprendi a usar para enxergar o mundo. Assim, a câmera, apenas como amiga, me permitiu provar que o amor, a paz, a paciência, a amabilidade e a bondade ainda existem e são a melhor forma pela qual se pode dar a relação entre os homens.
E assim eu cresci e busquei outras experiências humanas para compartilhá-las. Eu percebi a força das letras e palavras, mas também a força das imagens, por isso vi que capturar momentos bonitos não é suficiente na contribuição para um mundo melhor, então passei a usar a minha humilde câmera como testemunha e arma pacífica. Aspiro a ver e enxergar outras pessoas e a organicidade de suas relações, onde quer que estejam, documentar expressões de cumplicidade e ajudar uma família a ter não só uma bela foto no final do dia, mas a possibilidade de construir uma crônica visual a respeito de si mesma, uma coleção de imagens que perdurarão por gerações dando testemunho da existência de um núcleo. O objetivo maior do álbum fotográfico é, na minha opinião, se tornar uma coleção de registros sobre a família, sobre um momento, sobre a vida. E, da mesma forma como um cidadão recebe uma certidão de nascimento quando chega ao mundo e uma certidão de óbito quando morre, por meio de fotografias, um indivíduo faz para si a certidão de sua vida.